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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Esse texto vale a pena ler!*

"...permite a vista, (...) ora para o curral e logo mais abaixo
a várzea cercada do Ribeirão Contendas e de um pequeno córrego
drenado..."


A consciência da preservação ainda é verde

No alpendre da casa onde criou seis filhos, o senhor Sebastião Joaquim do Couto e dona Cléria Vilhena do Couto, casados há 51 anos, recebem a visita dos doze netos que se revezam aos domingos e esporadicamente se encontram em datas comemorativas, contam causos do passado e entre uma história e outra, ouve-se o assovio de Sebastião que olha fixo para frente como se assistisse a um filme com trilha sonora criada por ele próprio. Sentado numa grande cadeira de metal forrada com espessas almofadas, rodeado das pessoas acomodadas no sofá de couro rosa claro, antigo e comprido e nos muros baixos da área que permite a vista, ora para a estrada que dá acesso à cidade, ora para o terreiro de café, o paiol, a horta, o pomar, ora para o curral e logo mais abaixo a várzea cercada do Ribeirão Contendas e de um pequeno córrego drenado, e se apertar os olhos é possível ver de mais longe as plantações de morango, o avô conta que não fazia ideia de que assorear aquele dreno é um crime contra o meio ambiente. ”Desde que estou aqui, já limpei o rio várias vezes...” As reticências da fala indicam algo como “a abundância da natureza existente no passado hoje não existe mais e a consciência de preservação é pequena”.

No auge de seus 72 anos, Sebastião mudou-se com a família, há quatro décadas, para o sítio Paiol do Campo no bairro Açude da pequena e pacata cidade de Borda da Mata, de aproximadamente quinze mil habitantes, segundo o IBGE, no sul de Minas. Na época, já havia na propriedade uma pequena usina hidrelétrica geradora da luz do sítio. Para a construção desta foi necessário represar o Ribeirão Contendas e a partir da represa foi aberto um canal de 200 m de extensão por 2 m de largura, que levava água suficiente às barragens construídas para a geração de energia. Este canal se reencontra com o ribeirão cerca de 50 m depois das barragens, hoje inativas e enlodadas, a junção das águas é marcada por uma ponte que dá acesso à outra parte do sítio, caracterizada pelo morro de mata fechada, além de café plantado lá no topo. Mais tarde, com o avanço das tecnologias, a luz elétrica gerada pela concessionária do estado chegou ao campo e então a represa do sítio foi rompida, porém, o córrego aberto persistiu e esporadicamente recebia manutenção, no final do ano passado, no entanto, o ato de limpar o rio foi denunciado.

“Eu sabia que não podemos limpar o córrego, vejo sempre na televisão, mas parece que os homens mesmo errados têm mais razão que as mulheres” lamenta dona Cléria. “Os dois policiais que aqui vieram passearam pelas várzeas, nos explicaram as ações que não podem ser feitas, o cuidado com as matas e o rio, e quando eles chegaram onde era a antiga represa viram que havia morango plantado às margens” conta a avó. A lavoura de morango pertence a Benedito Braz do Couto, o Dito, filho do casal. “Eu sei que não posso arar e plantar perto do rio, sempre respeitei 10 m de distância, agora sei que a lei manda ficar 30 m longe” esclarece Benedito.

Ideia amadurecida

Para reparar o dano ambiental ocorrido na área de 400 m2, Benedito, respondendo legalmente, foi designado a pagar um salário mínino ao Horto Florestal da cidade, além de cumprir o projeto de recuperação da flora com espécies em extinção adaptadas ao lugar, entre elas unha-de-vaca, moxoco, aroerinha do brejo e figueira brava. “Eu tinha que plantar 50 árvores, plantei 80, quando o engenheiro agrônomo Pedro Carlos de Carvalho Teixeira, responsável pelo plano de reflorestamento veio aqui, ficou muito satisfeito ao ver que agora tem até uma paineira lá” lembra inclusive que o fiscal falou que o lugar será um cartão postal da propriedade; o pai pagou multa equivalente a R$ 900,00, e 20% da área total da propriedade foi delimitada à preservação constante e registrada pelo Instituto Estadual de Florestas, IEF.

Um ano depois do crime, o processo judicial foi concluído, a vegetação plantada às margens do córrego floresce e proporciona novo visual àquele lugar que antes era “limpo”. Na família dos avós ficou o aprendizado de que a preservação das matas e do rio é a melhor forma para mantê-las, a ideia que se tinha do meio ambiente foi amadurecida. No mesmo alpendre onde são contadas histórias do passado, esta história é contada com todas as letras “A árvore chora igual a gente chora quando cortamos um dedo.” ensina Benedito. O senhor Sebastião, com um olhar firme e compenetrado adiante, enquanto relembra o aprendizado da questão ambiental, assovia.

*produzido para o Prêmio Comunicador do Futuro

Um comentário:

Mário Liz disse...

sobre o verde, o poeta Paulo Leminsk traça um parâmetro interessante ...

"amar é um elo
entre o azul
e o amarelo"

então, como leminsk disse, o amor é verde ... esse elo ... essa fusão que nos rende e proporciona esperença.

o verde tem esse Quê que nos faz brotar ...